A sustentabilidade é, hoje, um dos pilares essenciais para garantir o futuro das empresas. Mas, num mundo em constante mudança, novos modelos de negócio, podem desempenhar um papel fundamental neste desafio. Esta foi uma das conclusões do workshop Green Deal e Novos Modelos de Negócio, organizado pela CEFAMOL, que decorreu no dia 3 de outubro, no Centro Empresarial da Marinha Grande, no âmbito do projeto Low-Carbon – Roteiro para a Descarbonização da Indústria de Moldes.
A sessão contou com intervenções (da esq. para a dir.) de José Camacho, da BIID, e Francisco Aguiar, da Startup Leiria, que debateram as oportunidades e desafios de repensar a indústria de moldes de forma sustentável.
José Camacho destacou a necessidade urgente das empresas de moldes repensarem os seus modelos de negócio, nomeadamente a vertente do Mould as a Service (molde como serviço). Para José Camacho, este modelo “pode ser benéfico para a indústria de moldes ao possibilitar uma maior eficiência operacional e um posicionamento mais sustentável”, bem como uma relação mais permanente e duradoura com o cliente. No entanto, alertou para um aspeto que considerou essencial: “A cooperação entre empresas torna-se uma necessidade, especialmente porque algumas dominam apenas parte da cadeia de valor. Sem coordenação, não conseguimos disponibilizar modelos como este”, advertiu.
Outro ponto para o qual chamou a atenção foi a “mentalidade das empresas”, que, no seu entender, pode ser um obstáculo à implementação de soluções sustentáveis. Este, salientou, “é um dos pontos mais complexos. As empresas só vão mudar quando enfrentarem dificuldades que as obriguem a adotar novas soluções”.
Referiu ainda o relatório do economista italiano Mário Draghi sobre a competitividade europeia, que, entre outros aspetos, defende uma maior coordenação dentro das cadeias de fornecimento, algo que, na sua opinião, poderá impulsionar o modelo de ‘molde como serviço’ na indústria de moldes europeia.
Fez questão de chamar também a atenção para a concorrência global, lembrando que “a China, sozinha, domina um terço do mercado de moldes”, o que coloca uma pressão acrescida sobre os fabricantes europeus, sujeitos a regulamentações, entre as quais as ambientais, mais rigorosas. “As empresas europeias têm saberes e tecnologias que podem usar a seu favor, mas precisam de se adaptar às novas exigências de sustentabilidade”, defendeu.
Já Francisco Aguiar focou-se nos constrangimentos que ainda impedem a adoção mais ampla de modelos como o ‘molde como serviço’ – que também considera que pode trazer grandes vantagens ao sector -, nomeadamente a resistência por parte de alguns fabricantes. “Muitas empresas, especialmente na indústria automóvel, preferem manter o controlo total do processo produtivo. Não confiam ainda em comprar peças avulso, sem esse controlo completo”, explicou, sublinhando que, no entanto, a necessidade de descarbonização poderá forçar essas mesmas empresas a repensar os seus modelos de negócio para reduzir a sua pegada ecológica e os custos energéticos.
Francisco Aguiar referiu ainda ver na Inteligência Artificial ou na fabricação aditiva “ferramentas poderosas” que podem acelerar esta transformação, permitindo um controlo mais eficiente e uma maior capacidade de inovação. “Estamos a falar de tecnologias que podem ser disruptivas para empresas mais tradicionais, mas que trazem competitividade e eficiência”, enfatizou, advertindo para o papel importante das startups na introdução de soluções inovadoras para os desafios da indústria.
Ambos os oradores concordaram que o futuro da indústria de moldes passa pela integração de soluções sustentáveis e inovadoras, que acrescentam benefícios para o ambiente e, ao mesmo tempo, representam uma vantagem competitiva para as empresas. Contudo, alertaram para alguns desafios, como a mudança de mentalidades e o investimento necessário em novas tecnologias e formação dos colaboradores.
“Quem conseguir perceber rapidamente esta necessidade e agir, terá vantagens competitivas no futuro”, defendeu Francisco Aguiar, enfatizando a importância de transformar a sustentabilidade num fator estratégico, em vez de ser vista como um custo adicional.