A obrigação de quantificar (e reduzir) as emissões de carbono 

Ana Pires*, CENTIMFE
*Doutorada em Engenharia do Ambiente e Coordenadora de I&D no Centimfe. 

A descarbonização é uma das principais estratégias globais para mitigar as mudanças climáticas, com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e, eventualmente, alcançar a neutralidade carbónica. A pressão sobre as empresas para se alinharem com as metas de descarbonização tem aumentado significativamente, resultando em maior ênfase na medição, divulgação, definição de metas, estratégias e ações relacionadas com a sustentabilidade e a redução de emissões.
Nesta era climática, o reporte das emissões de carbono realizado pelas empresas deve ser o mais rigoroso possível. Nos últimos anos tem ocorrido uma explosão de iniciativas que pretendem impulsionar a quantificação, o reporte e a definição de metas.  

Quantificação

No que concerne à quantificação, é globalmente seguido o Greenhouse Gas Protocol (GHG Protocol). Esta norma fornece uma estrutura abrangente para quantificar emissões ao longo da cadeia de valor, divididas em três âmbitos (scope 1, 2 e 3). Este protocolo é essencial para que as empresas compreendam e contabilizem as suas emissões, permitindo-lhes definir estratégias eficazes de descarbonização.

Reporte

Para reportar as emissões de carbono existem diversas plataformas que permitem divulgar as suas emissões de GEE, incluindo ainda outros pilares da sustentabilidade ambiental e social. Aqui são abordadas algumas plataformas de reporte.
A plataforma Global Reporting Initiative (GRI) é uma ferramenta que oferece um conjunto de normas que as empresas podem seguir para elaborar relatórios de sustentabilidade abrangentes e comparáveis. Estas normas cobrem diversos temas, incluindo emissões de carbono, gestão de resíduos, direitos humanos, práticas laborais, anticorrupção, entre outros. Ao adotar as normas do GRI, as empresas podem medir e gerir os seus impactos, bem como comunicar as suas ações e resultados para os seus stakeholders, incluindo investidores, clientes, reguladores e a sociedade em geral.
O CDP (anteriormente designado por Carbon Disclosure Project) é uma plataforma global de divulgação ambiental que permite às empresas medir e divulgar as suas emissões de GEE, bem como os seus impactos ambientais, riscos e oportunidades associados às alterações climáticas. A participação no CDP é voluntária, mas tem ganho uma importância crescente à medida que investidores, clientes e reguladores exigem maior transparência sobre as práticas ambientais das empresas. As informações divulgadas ao CDP são utilizadas para avaliar o desempenho ambiental das empresas e incentivar melhorias contínuas.
Outras iniciativas têm surgido mais recentemente, a nível nacional, como é o caso da SIBS ESG. Esta é uma plataforma direcionada para as práticas ambientais, sociais e de governança das empresas (ESG), onde estão diversos indicadores ambientais, incluindo os relacionados com as emissões de GEE. A plataforma SIBS ESG é uma solução digital desenvolvida pela SIBS, uma das principais empresas de serviços financeiros em Portugal, focada em oferecer às empresas e instituições ferramentas para a gestão e monitorização de práticas ESG. Esta plataforma permite que as organizações acompanhem o seu desempenho em termos de sustentabilidade, assegurando que as suas operações estejam alinhadas com os critérios ESG, que são cada vez mais valorizados por investidores, clientes e reguladores. 

Metas

As empresas devem definir as suas metas de descarbonização com o máximo rigor, para que consigam contribuir de modo eficaz para a redução dos GEE na atmosfera. Para tal, surgiu a iniciativa Science Based Targets initiative (SBTi), que ajuda as empresas a definirem metas de redução de emissões de GEE baseadas na ciência climática, assegurando que estão alinhadas com os objetivos do Acordo de Paris, ou seja, limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C e, preferencialmente, a 1,5°C. As metas definidas através da SBTi são verificadas e validadas pela iniciativa, proporcionando confiança aos stakeholders sobre o compromisso da empresa com a descarbonização.

A obrigação de quantificar pode não ser ainda uma realidade para todos os sectores, tipologias e dimensões das empresas. No entanto, começar este processo levará a uma transformação dentro das empresas, para que consigam manter-se atualizadas e capazes de responder às exigências do mercado. A formação é, sem dúvida, uma das ferramentas disponíveis para tal. O projeto Low Carbon, desenvolvido entre o Centimfe e a Cefamol e financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), pretende desenvolver competências junto da indústria de moldes sobre o tema da descarbonização. Mais informações podem ser consultadas neste website.

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