A descarbonização é dos maiores desafios com que se confrontam as empresas no caminho para a sustentabilidade. O desenvolvimento sustentável pressupõe um conjunto de medidas e ações que coloquem em harmonia tudo o que compõe uma organização, seja a nível ecológico, económico, social e até cultural. Para apoiar as empresas a fazer este percurso, a CEFAMOL, em conjunto com o CENTIMFE, e no âmbito do projeto Low-Carb, irão desenvolver o Roteiro para a Descarbonização da Indústria de Moldes, promovido no âmbito do PRR. O plano de ação desta nova ferramenta de apoio ao sector foi apresentado numa sessão que decorreu no dia 13 de dezembro, no Centro Empresarial da Marinha Grande, reunindo mais de sessenta de profissionais da indústria.
A descarbonização constitui um dos maiores desafios que se coloca, atualmente, ao sector industrial. Apoiar as empresas neste percurso é o objetivo do Roteiro para a Descarbonização da Indústria de Moldes, que pretende, ainda, promover uma mudança de paradigma na utilização dos recursos.
No decorrer da sessão de lançamento, esta nova ‘ferramenta’ foi apresentada por Ana Pires, do CENTIMFE e Manuel Oliveira, secretário-geral da CEFAMOL. O ponto de partida do projeto, explicou Ana Pires, consistiu em “analisar o posicionamento da indústria de moldes nesta questão”. Foi definida a necessidade de criar um roteiro, projeto que tem vindo a ser elaborado nos últimos meses e que foi apresentado à indústria no dia 13 de dezembro.
Este roteiro, adiantou, “estará integrado numa plataforma digital informativa que permita conceber os planos de ação à medida de cada empresa”. A meta, clarificou, é alcançar a neutralidade carbónica até 2050. O Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) integra também este projeto, ajudando a medir e definir as metas mais indicadas para as empresas do sector. Neste percurso, assumem especial relevância questões como a digitalização, a eficiência energética ou mesmo a inteligência artificial.
O papel da plataforma, salientou ainda Ana Pires, é evoluir e conseguir vir a elaborar autodiagnósticos; ou seja, que permita a cada empresa avaliar a sua situação e criar um plano à medida das suas necessidades.
O Roteiro, com uma vigência temporal até 2025, conta vir a integrar, pelo menos, 50 empresas do sector, pretendendo apoiá-las a, para além de monitorizar e elaborar planos, conseguir financiamento para operacionalizar a mudança. Este projeto tem ainda um conjunto de atividades previstas, com o objetivo de apoiar as empresas neste processo e disseminar conhecimento. Estas foram apresentadas por Manuel Oliveira, inserindo-se num conjunto de objetivos de sensibilização, capacitação e uniformização do conceito na indústria de moldes.
Está prevista a realização de um ciclo de workshops (presencial), abordando as temáticas da descarbonização e competitividade, a decorrer a cada dois meses, e intercalando com a realização de ações de formação, com a presença de especialistas em várias temáticas relacionadas com a descarbonização.
De forma a assegurar a comunicação e disseminação, o roteiro tem ainda estipulada a criação de um Glossário para a Descarbonização, que uniformize a linguagem para a indústria. Serão também criados ainda um website, newsletters trimestrais, notícias e artigos na revista Molde e vídeos das ações que contribuam para disseminar informação e conhecimento sobre o tema. “Este é um caminho exigente que as empresas dificilmente conseguirão percorrer sozinhas, sendo, por isso, essencial um alinhamento coletivo”, defendeu Manuel Oliveira.
Oportunidade
Falando na abertura da sessão, João Faustino, Presidente da CEFAMOL, considerou que o Roteiro “é um passo crucial na nossa jornada rumo a um futuro sustentável”. Disse ainda que se trata de uma “ferramenta indispensável de apoio à indústria”, que “pretende assumir-se pelo seu papel de orientação estratégica, sendo composto por diretrizes e linhas, de forma a disponibilizar soluções para as mudanças necessárias nas empresas”.
“Um ambiente mais sustentável é fundamental e as empresas têm de seguir este caminho, até porque a sustentabilidade é uma questão estratégica para o mercado que está cada vez mais consciente e exigente nesta matéria”, afirmou ainda.
Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), falou sobre a necessidade da descarbonização, advertindo as empresas que esta “pode constituir-se como uma oportunidade para reduzir custos e incrementar a competitividade”.
Os moldes, destacou, “têm desafios muito exigentes pela frente”, repartidos por várias áreas, mas que surgem todos em simultâneo. “Trata-se de uma emergência nova, que exige respostas mais rápidas”, considerou, lembrando que, ao estarem inseridas em cadeias de valor internacionais, as empresas de moldes “têm de acelerar os seus planos, porque, vão ter de cumprir critérios muito claros relativos à descarbonização”. Por isso, aconselhou as empresas a fazerem-se “rodear de conhecimento para optar pelos melhores passos e medidas”.
Já Luís Filipe Guerreiro, Presidente do IAPMEI, referiu a importância do processo de descarbonização para a indústria, salientando que “vivemos um período de transição em tudo: climático, digital e energético” e este caracteriza-se, sobretudo, pela velocidade a que acontece. Isto faz com que, no seu entender, seja necessária uma aprendizagem rápida, quer das empresas, da sociedade civil ou das entidades públicas. Os organismos públicos, exortou, “têm de ser mais rápidos e eficientes nas respostas, de forma a apoiar a indústria”.
No caso do IAPMEI, sublinhou, “tentamos acompanhar as mudanças nas empresas e ajudar, com a noção de que a descarbonização é um esforço enorme, mas incontornável”. Salientando que as PME “ainda não têm estruturas suficientes para avançar como as empresas maiores”, defendeu que é essencial que tenham apoio para percorrer este caminho. Para além na inclusão nas cadeias de valor, lembrou a importância da sustentabilidade para assegurar outra questão: o financiamento. “Os bancos vão exigir sustentabilidade às empresas”, enfatizou.
Transparência
Ana Pires, do CENTIMFE, lembrou que a Europa “quer alcançar a neutralidade carbónica”, afirmar-se como ‘o berço das energias limpas’ e, por isso, desenvolveu um conjunto de regulamentos que, ao apostar nestas tecnologias com origem renovável, contemplam vários incentivos à indústria, de forma a assegurar a sua competitividade.
Referindo-se à indústria de moldes, considerou que as empresas têm de olhar não apenas para a sua produção, mas para todo o processo produtivo, incluindo o material a injetar e o seu final de vida. Destacou ainda a importância de questões como os aços neutros em carbono, defendendo que os moldes têm de conseguir ser mais duráveis e tem de ser possível, também, reutilizar alguns dos seus componentes, no final da produção.
Para Elsa Henriques, da FLAD, que falou sobre ‘A cadeia de valor da indústria de moldes’, “o molde é um sistema muito complexo, que está na origem de muitos produtos e peças e o seu processo de fabrico é, ele próprio, muito complexo, com tarefas e as tecnologias mais avançadas”. Para além disso, lembrou, “o molde é um produto único, ou seja, é todo um trabalho de engenharia feito à medida do seu cliente”.
Por isso, a descarbonização apresenta-se como um grande desafio para as empresas, juntamente com vários outros que se colocam ao sector, que têm de olhar para todo o ciclo produtivo, desde o design ao final de vida dos produtos, procurando melhorar a sua resposta. No seu entender, as empresas têm de “conseguir tornar-se imprescindíveis para o seu cliente, dando respostas a todas as mudanças este exige” e, dessa forma, ganharem importância, diferenciação e competitividade. Defendeu ainda que há espaço para ganhos de eficiência e a descarbonização pode ser disso um exemplo.
Veja ou reveja a sessão em vídeo: